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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O gigante acordou?



Nos acontecimentos recentes, pude testemunhar ao vivo na programação da TV Câmara, o brilhante depoimento do Senador Cristovão Buarque. Ele se referiu aos movimentos de junho de 2013 como uma manifestação popular como a mistura de dois grupos de jovens, um que luta pelos ideais de mudança política, por se considerarem politicamente excluídos, porém esclarecidos o suficiente para reconhecerem sua força e capazes de se mobilizar pelos seus interesses, e outro grupo que já vive na exclusão, não tem o que perder para a sociedade e aguarda a oportunidade de, ausente o poder público, manifestar na sociedade como um todo o seu ressentimento, explodindo em violência.
O professor Milton Almeida dos Santos já falava dessa discrepância e dos perigos que os radicalismo e as alienações poderiam produzir no mundo globalizado. As distâncias crescem a olhos vistos, num mundo em que o ter e o saber caminham cada vez mais distantes. A sociedade produz suas próprias mazelas pela exclusão social de uma massa, muitas vezes adormecida até que um dia... o "empréstimo compulsório ao rei" foi o estopim de uma Guerra Civil na Inglaterra (a conhecida Revolução Puritana Inglesa, no Século XVII), os "seguidos aumentos de impostos nas colônias inglesas na América" foi o estopim da luta pela independência dos Estados Unidos da América (a conhecida Revolução Americana, no Século XVIII), e, por último, o "aumento no preço do pão" foi o estopim para uma Guerra Civil na França (a chamada Revolução Francesa, também no Século XVIII).
A Primavera Árabe também foi um decisivo momento histórico na nossa História, com as quedas sucessivas de tiranos que abusavam do seu povo ao longo de décadas no poder, semeando o medo e o ódio. Tal processo ainda não findou, mas serviu de lembrete ao mundo da capacidade de mobilização que o povo possui e que, nem sempre, precisa de lideranças formais.
Ao longo da História, nos momentos mais decisivos e revolucionários, estouros de violência, ora ocasionais e esporádicos, ora na essência do movimento, também ocorreram. Acredito no sincero desejo de mudança, sem violência, sem desestabilização da sociedade, iniciado pelos estudantes brasileiros em 17 de junho de 2013, mas fico abismados com o rastro de violência deixado pelos que se aproveitam do movimento para praticar a desordem e o caos.

Cobrir o rosto, protestar em anonimato, esconder sua identidade... isso me assusta por dois motivos. Ou na nossa sociedade não existem garantias de liberdade de expressão consistentes ou existe uma camada que, visando alcançar satisfações imediatas, como prazer de ter ou destruir algo que não lhe está normalmente ao seu alcance, promove a desordem generalizada.
Não cabe a mim julgar, mas acredito na liberdade e no respeito vencendo o ódio e a violência e que, no fim, acharemos a solução que procuramos. A classe média que se movimentou primeiro e mobilizou os primeiros atos, não se identifica com a barbárie. A destruição de sua paz, de seus símbolos e de seus espaços não passará incólume. Gradualmente, o barbarismo vai diluindo a força dos protestos e os mesmos políticos que acenaram com indiferença no começo do movimento, começam a buscar aproximação com seus membros. É o velho ditado "se não pode com eles, una-se a eles". Programas, propostas, encontros, reuniões e até mesmo um plebiscito fazem parte dessa novela, onde teremos ainda nos próximos capítulos de agosto, candidaturas disparadas de todos os lados, uma verdadeira corrida ao planalto, com discursos todos em prol do movimento que tanto demonstrou repulsa pelos mesmos políticos que vão tentar utiliza-lo para se promover. Na política, a queda da popularidade de uns é uma oportunidade para outros e a luta se perde nesse meio se não soubermos conduzir nosso meio a constante vigilância e reflexão.

Algo começou, não posso prever exatamente quais serão seus resultados, mas arrisco imaginar a possibilidade de esquecermos um pouco essa nossa história de um povo sem memória, que exige dos políticos a mesma honestidade que não é capaz de pratica-la se esse movimento também mudar as relações políticas primeiro entre nós e nossos vizinhos. Então, um dia poderemos almejar e exigir com mais justiça e vigor ainda a retidão daqueles que nos representam.

Mas por hora, Rui Barbosa ainda está certo: "De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto."

O que significa que ainda temos muito por andar... ousemos continuar com esta jornada!


O consumismo e o jovem brasileiro